segunda-feira, 13 de setembro de 2010

.os sonhos que não envelhecem.


eram cinco, olhando para o sol, em busca do sonho. aquele velho sonho, que tocava-lhes fundo as entranhas e corria por todo o sangue, espalhando o calor e a emoção que pulsava dos corações jovens e ansiosos. a energia que vibrava dos corpos tomava conta de todos os espaços entre eles.

muito pouco pensavam; viver era a palavra de ordem. o momento do agora transbordava dos olhos esperançosos, numa legítima viagem de ventania.

porque se chamavam moços, também se chamavam estrada.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

.sorrio para o rio.


foi um pequeno momento, um jeito, uma coisa assim. ele me olhou, eu o olhei. os olhos, por um infímo instante, abrigaram-se um no outro. sorriso puro, sincero; identificação, empatia, algo do tipo, sei lá. algumas coisas não se explicam, só se sentem, sem mais.

ele, 13 anos. ela, o dobro.

imediatamente após seu sorriso correspondido, de seus lábios a fala mais do que repetida em seu cotidiano: olha aí, pessoal, o passatempo da sua viagem, é só um real, só um real...

mas é claro que sim; mesmo que não fosse viajar pra lugar nenhum naquele momento.

dentro dela, um sentimento esquisito ao ver ele saltar do ônibus naquela noite solitária na cidade maravilhosa (mesmo).

de fato, queria era levar ele pra algum lugar, comer algo gostoso, rir junto, saber de sua vida, sua história, sua casa, suas brincadeiras. queria ele perto, e triste permaneceu chacoalhando dentro do ônibus por sentir-se incapaz de satisfazer os anseios e desejos de um garoto carioca com tanta responsabilidade dentro de tão pouca idade.

sábado, 19 de junho de 2010

.sobre o caminho, a verdade e a vida.

ela nunca entendeu muito bem essa coisa de fingir. nunca soube, na verdade. só sabe fazer daquele jeito: por inteira. talvez ali more seu maior defeito, aquele que consome, que a faz sofrer. mas prefere assim.
melhor do que viver pela metade; amar pela metade; ser feliz pela metade. prefere doar-se inteira; ao momento, ao outro, ao pensamento, ao sentimento. e também aceita a dor, o choro, a decepção; correndo livre em cada gota de seu sangue, em cada poro seu.
seu olhar dispensa cortinas e máscaras. aliás, despreza.
gosta mesmo é da verdade.
e da vida, que a invade em abundância, como a brisa matinal em seu quarto todas as singelas manhãs.

terça-feira, 8 de junho de 2010

.sobre a fragilidade.

chocada diante da possibilidade da perda, assim ela permaneceu; por horas a fio. percebeu-se só; novamente. longe, sem ninguém para lhe tomar as lágrimas que caiam sofreguidamente no quarto frio e vazio. dor imensurável a de se sentir fora do alcance para seus olhos. dor essa que não era sua, não lhe pertencia; e ao mesmo tempo queimava-lhe as entranhas como fogo que consome a palha seca.
não havia nada que pudesse domar aquela força; o grito abafado soou como um urro. vinha de dentro; de seu sangue, de seu amâgo.
meu menino, meu irmão.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

.o sim e o não.


o não é talvez uma das palavras com o significado mais difícil para a compreensão humana de todo o dicionário já escrito, em todo e qualquer idioma. crescemos juntos; sua compania é inevitável, mas nem sempre agradável. convivemos; aceitamos.

no primeiro soar de seu fonema, a imediata reação é o choro. impossível fugir a essa dura realidade, rígida, inféxível. depois, quem sabe, a gente entenda - como sempre é dito por aí - o porquê daquele ressoar infinito, que teima em nos acompanhar noite adentro. enquanto isso, fica essa sensação de incompleto, de desfeito, de fim sem começo.

mas é assim; sem o não onde estaria o sim?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

.o sorriso da lua.


levantei os olhos chamada pela sua luz. ali, ela sorria inerte; a chuva, que outrora molhou sua face, já não caía mais. o sol, que havia iluminado-a o dia todo, também já não presenteava com sua grandeza. ali, na noite escura e fria, ela abriu seu sorriso mais belo, o mais puro e verdadeiro; sorriso de quarto mingante mingando em seu último suspiro.

.gratidão.

o que mais valorizo nessa vida é aprender. milla petrillo; mãe, mulher, artista, pessoa.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

.nove horas de treze de maio de dois mil e dez.

há quatro dias sem um raio de sol, acordo imersa em um momento de puro amor.
mexo os pés sentindo os dedos e cada vaso sanguíneo meu parece absorver lentamente o calor que vem de lá de fora, conduzindo-o por entre os mais minúsculos entrepeles e pêlos, até, por fim, tocar a cabeça e se emaranhar, tranquilo, entre cobertores e cabelos. os sons do ambiente me envolvem numa música constante e feliz.
sim, ele veio para ver-te, pequeno. veio para aquecer seu dia, seu início, seu verbo. a estrada amarela que novamente se faz caminho; a vida que se renova sob a luz; esse deus das plantas pequenas.
hoje é você quem nasce debaixo desse oceano translúcido de matéria abstrata.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

.agora que o ouvido escuta.


prossigo caminhando. pensamento; sentido. o momento em que me encontro me ocorre como uma revelação, uma descoberta. com os olhos cheios de cores e o peito cheio de amores vãos, eu vou. a ausência do tempo me vem de encontro com a brisa suave, mas fria, das onze horas da manhã.

estou presente - como há muito não me via - absolutamente dedicada ao agora. cinzas e verdes me invadem a alma e os pulmões e eu deixo se abrir um leve e puro sorriso.

sim, meu caminho é vermelho como terra de chão batido, e em meu horizonte não se veêm sinais de concreto, e, a não ser pelo barulho longínquo, não se desconfia da auto-estrada logo adiante.

quarta-feira. sensação plena.

terça-feira, 11 de maio de 2010

.aqui, dentro do figo, ainda.


acordar dentro de um casulo; dentro de um figo maduro, aconchegante, doce e só. na beira da vida, a gente torna a se encontrar só; o eu e eu em sua mais essencial forma e conteúdo. sem mais, sem outrora. a hora é agora, a verdade sempre está na hora, embora você pense que não é. assim como seu cabelo cresce agora, sem que você possa perceber, o mundo acontece lá fora e aqui dentro, num universo infinito.


olhar para dentro, ver-se por inteira, nua, sem máscaras e pinturas.

enclausurada em seu abrigo íntimo, em seu momento, em seus sonhos esquecidos, num eterno adormecer de sentidos, confortavelmente acomodada em sua solidão.


morrer deve ser tão frio, quanto na hora do parto.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

.cor de rosa e carvão.


agora, que é quase quando, deixo - me sentar sob o pôr do sol. aqui, de onde o olho mira, singela luz.